01 março 2012

Angélico

Excerto da minha crónica na revista Eles e Elas-Junho 2011

"Se me amas,não chores
Se conheces o mistério imenso do Céu onde agora vivo,
este horizonte sem fim,
esta luz que tudo reveste e penetra,
não chorarias se me amas!
Estou já absorvido no encanto de Deus,
na sua infindável beleza.
Permanece em mim o teu amor,
uma enorme ternura
que nem tu consegues imaginar.
Vivo numa alegria puríssima.
Nas angústias do tempo, pensa nesta casa
onde um dia estaremos reunidos
para além da morte, matando a sede na fonte
inesgotável da alegria e do amor infinito.
Não chores, se verdadeiramente me amas! " - Santo Agostinho

Em 2005 conheci 2 D’Zrt’s. Ainda não o eram. Nessa altura eram 2 actores dos morangos com açúcar.

Foi numa viagem à neve. Lembro-me de estar no bar do hotel e eles começarem a cantar, com os restantes convidados à sua volta, sem perceberem bem quem eles eram e porque de repente tinham começado a cantar, lembro-me dos olhares das pessoas umas para as outras tipo: O que é isto?

Mas eles indiferentes a tudo e a todos cantaram, tocaram e encantaram.Com a coragem de quem sabe o que vale, de quem sabe o talento que tem, e de quem está ali para gerar emoções, fazendo o que lhes vai na alma.

E o que é certo é que mexeram com as minhas emoções, mexeram com as emoções de todos os que os ouviam e que inevitavelmente começaram a mexer o corpo ao ritmo da música.
Era contagiante e no fim lembro-me que aqueles olhares das pessoas no inicio deram lugar a sorrisos e a uma grande salva de palmas. Deram lugar a olhares de espanto perante o talento daqueles jovens. Deram lugar a pedidos de mais músicas, a perguntas de quem eram e o que iam fazer.

A resposta foi que iriam ser um grupo de 4 elementos que existiriam dentro dos Morangos com Açucar e fora.

Mais tarde todos assistimos ao nascimento dos D’Zrt e tenho a certeza que tanto como eu, todos os outro presentes naquela viagem à neve vibraram com o êxito que eles alcançaram, vibraram pelo talento deles estar a ser reconhecido, vibrámos porque os vimos, ouvimos e nos deixamos encantar por eles antes de toda a legião de fãs que depois reuniram.

Fui-me cruzando várias vezes com eles, acabei por conhecer os 4 elementos, porque os convidava para os meus eventos e porque me cruzava com eles em diversas situações profissionais.

Quando comecei a namorar com o Filipe, tive o prazer de os conhecer a nível pessoal. Comecei a ouvir a forma como o Filipe falava deles, comecei a ver o carinho que tinha por eles e pude comprovar o que ele dizia, pude sentir também esse carinho.

Pude perceber que eram especiais, não por causa do talento que tinham, não por conseguirem arrastar multidões, não porque conseguiam gerar emoções, que isso tudo eu já sabia, mas pelas pessoas que eram. Pelos seres humanos que eram.

Fui comprovando isso em diversas situações e uma delas, falei aqui numa das minhas crónicas, no último concerto dos D’Zrt, no dia 3 de Fevereiro de 2008.Emocionei-me com a emoção que aqueles 4 jovens estavam a provocar na multidão que tinham à frente, emocionei-me ao ver que durante as horas do concerto eles conseguiram que todas aqueles pessoas se esquecessem de tudo o resto, e que só pensassem em dançar, cantar, gritar, aplaudir.

Só verdadeiros artistas, só verdadeiras estrelas conseguem isso. E depois nos bastidores confrontar-me com 4 miudos que depois do show que deram, continuavam a ser envergonhados, simpáticos, inseguros. Mesmo exaustos, continuavam com um grande e sincero sorriso na cara, continuavam disponíveis para os beijinhos, abraços, autógrafos. Disponiveis para uma palavra amável a toda a gente que os abordava.

O meu marido deu-me a oportunidade de em Novembro de 2009, ter ainda mais a noção da história dos D’zrt, ao permitir-me escrever um texto para acompanhar um vídeo de apresentação do regresso dos D’Zrt. Foi-me impossível controlar as lágrimas ao ver as imagens e informações que me serviram de base para o meu texto. Ver o percurso dos meus 4 amigos, na altura já os considerava como tal, um percurso cheio, espalhando alegria, música, sorrisos, amor e união.



Nos 6 anos da minha filha Vera, o seu regresso estava no auge, e as minhas filhas não fugiam à regra. A Vera pediu um bolo com a fotografia deles, mas o Filipe fez mais, pediu-lhes se eles podiam ir cantar lá a casa na festa dela.

E eles foram. As minhas filhas ficaram sem reacção, estavam de boca aberta. Os D’Zrt estavam em casa delas! Contagiaram toda a minha família, e puseram-na de pé a cantar e a dançar. Formámos uma roda à volta deles e deixámo-nos ir.

Os meus avós voltaram a ser jovens por uns momentos e lembro-me de no fim da festa dizerem: Que maravilha de miúdos que eles são! Que talentosos! Que boas pessoas! Terem tido a disponibilidade de vir até aqui fazer esta surpresa à Vera! Lembro-me de terem ficado à conversa com o meu Avô depois de cantarem, de ouvirem as suas histórias e eles contarem as deles. De se juntarem a nós enquanto família e a partir desse dia foi isso que se tornaram. E o meu carinho por eles tornou-se ainda maior.

A Vera não parou de falar nisso durante semanas e sei que nunca mais se vai esquecer na vida. Vai puder para sempre dizer que teve a sorte de ter 4 verdadeiros artistas em casa, a cantarem-lhe os parabéns, de ter a sorte de conhecer 4 seres humanos simplesmente únicos.

Porque eles não são só actores dos Morangos, eles não são só elementos dos D’Zrt, eles não são só O Angélico, o Vintém, o Cifrão e o Edmundo, eles são 4 pessoas com o coração do tamanho do mundo.4 jovens trabalhadores, humildes, saudáveis, responsáveis e com os pés bem assentes na terra.

No nosso casamento voltaram a surpreender tudo e todos, pegaram no microfone e fizeram aquilo que sabem fazer melhor: actuaram. Puseram toda a gente a dançar a cantar as suas músicas e provaram que os seus fãs são de todas as idades, e que desde os mais jovens até aos mais velhos sabem as suas letras de cor e saltam das cadeiras para as dançar.

Escrevo esta crónica com uma tristeza muito grande. Escrevo esta crónica porque senti que tinha que partilhar a minha história com estes 4 miudos, entre eles o Angélico.

Escrevo esta crónica porque me apeteceu dizer o que me vai na alma, principalmente depois de comprovar mais uma vez, que mesmo nestas alturas, mesmo com o Angélico a lutar pela vida, continuam a existir pessoas a revelar o pior do ser humano.

Pessoas que em vez de usarem a sua energia, para mensagens positivas, de força e esperança, usam essa energia para comentários desagradáveis, despropositados e com pormenores que não interessam para nada quando há um jovem entre a vida e a morte.

Quando na maior fragilidade da vida humana, quando, perante a morte de alguém, a única situação que não tem solução, discutem o que não tem discussão. Falam do que não sabem. Comentam o que não têm legitimidade para fazer. Procuram culpados e justificações para os “ses” e os “porquês”.

Preconceitos com os quais infelizmente temos que lidar no dia a dia, mas que nestas alturas ainda doi mais ter que lidar.

Esta é uma altura para procurar a paz de espírito e ajudar a dar descanso a quem sofre. É uma altura que se precisa acima de tudo de tranquilidade para se lidar com uma fatalidade.

O Angélico era uma pessoa boa.

O Angélico foi uma estrela na terra e á agora uma estrela no céu. Aconteceu uma tragédia impensável. Porque? Não sabemos.

Sabemos que os Pais perderam a razão das suas vidas.

Sabemos que a Rita perdeu o Amor da sua vida.

Sabemos que o Vintém, o Cifrão e o Edmundo perderam um irmão. Perderam parte deles.

Sabemos que vai ser um anjinho no céu e que vai olhar pelos seus pais, família e amigos.

Sabemos que deve já estar a actuar para todos os outros anjos, fazendo do céu uma festa.

Sabemos que continua a esbanjar o seu charme, o seu sorriso e a sua simpatia.

Sabemos que tivemos a sorte, de mesmo por um tempo demasiado curto, termos tido no nosso pais um artista tão completo.

Sei que eu, o Filipe e as nossas princesas tivemos a sorte de nos termos cruzado na vida com uma pessoa como o Angélico. Que nos tocou e marcou. Para sempre.

Sabemos que tinha a vida pela frente.

Sabemos que Deus leva os que mais ama e que devia estar a precisar de um anjo estrela como o Angélico.

Sei que o Filipe perdeu um grande amigo, perdeu alguém que tratava como irmão mais novo e as vezes como filho. Perdeu alguém por quem dava prazer arriscar. Por quem tinha um orgulho do tamanho do mundo e que considerava um artista que podia tudo. Um amigo a quem dava conselhos não só de trabalho, mas pessoais, um amigo com quem sei que adorava conversar, que adorava sentir a força da natureza que era, vibrar com os seus projectos e dar força aos seus sonhos.

Sei que já deve ter conhecido os meus pais e a minha irmã e que eles o devem ter recebido da melhor maneira. Espero que já lhes tenha cantado as músicas do álbum novo que não chegou a lançar.

Vai continuar a abraçar-nos lá de cima com as suas asas de estrela anjo.

Nós vamos continuar a recordá-lo, a ouvir as suas músicas, a cantá-las e a dancá-las.

Vamos sorrir cada vez que nos lembrarmos da sua alegria e força de viver. Do fenómeno chamado Angélico Vieira.

E vamos ter muitas saudades.
Até qualquer dia Angélico.

 O MAPSHOW está no FACEBOOK!Siga-nos por lá também!

Sem comentários:

Enviar um comentário