06 maio 2013

A ver as Estrelas-Elizabeth Taylor by Miguel Monteiro

 


Por mais estranho que pareça não foram os olhos violeta, nem a elegância no andar, no olhar, no vestir. Foi sobretudo o sorriso e o tamanho de Elizabeth Taylor que mais guardo na memória.

Para quem visita o Hollywood Boulevard, para quem faz a inevitável paragem no Chinese Theater e contempla uma a uma as marcas dos pés e das mãos no chão de cimento  mais célebre do mundo, a primeira coisa que salta à vista é a marca deixada por Taylor – as mãos e, sobretudo, os pés, são de um tamanho mínimo. Parecem quase marcas deixadas por uma criança, embora a actriz o tenha feito já com 24 anos, no dia da estreia de “O Gigante”.


Dois anos depois desta minha surpresa, encontrei Elizabeth Taylor pela primeira vez. Estávamos no Dorothy Chandler Pavillion, em Los Angeles, na noite de 30 de Março de 1992. A cerimónia dos Óscares estava a chegar ao fim, com o triunfo anunciado de “O Silêncio dos Inocentes”. Anthony Hopkins e Jodie Foster já tinham sido coroados como Melhores Actor e Actriz e celebravam nos bastidores junto de nós, radiantes, as suas vitórias.

Pelo palco a lista de apresentadores dessa noite tinha sido impressionante, numa inteligente mistura entre a  velha e a nova Hollywood como hoje em dia já não se consegue ver.

Pela frente dos meus olhos e pelo palco do Chandler passaram estrelas de sempre como Shirley MacLaine , Audrey Hepburn ou Liza Minnelli, distribuindo prémios ao lado de estrelas do momento como Sharon Stone, Patrick Swayze, Whoopi  Goldberg, Anjelica Huston ou  Demi Moore.
 Mas o melhor estava guardado para fim. As luzes apagaram-se. O ecrã gigante desceu e  começou um momento mágico: uma das mais bonitas cenas de “Gata em Telhado de Zinco Quente” com Paul Newman e Elizabeth Taylor mais belos que nunca, foi exibida. E logo depois, Newman e Taylor, ainda deslumbrantes 34 anos depois, entraram juntos no palco.


A sala quase foi abaixo, tal foi o som da ovação. Newman sorriu,  aproximou-se do microfone e disse: “Estávamos com muito bom aspecto naquela altura”. Elizabeth Taylor riu-se e respondeu: “Hey…acho que ainda estamos com um óptimo aspecto!”. A sala voltou a estremecer com os aplausos. Quando abriram o envelope e anunciaram o filme de Jonathan  Demme como vencedor do Oscar, os holofotes voltaram-se outra vez para “O Silêncio dos Inocentes”. Mas foram Taylor e Newman quem mais brilhou naquela noite.

Quase um ano depois, a 29 de Março de 1993, também no Chandler Pavillion, reencontrei Elizabeth Taylor numa das mais importantes noites da sua vida. A Academia tinha decidido entregar a Taylor e a Audrey Hepburn o Prémio Humanitário Jean Hersholt. Taylor era já uma célebre embaixadora na luta contra a Sida e as batalhas de Hepburn na Unicef comoviam o mundo. Mas Audrey não resistiu a um cancro e morreu dois meses antes da cerimónia. Gregory Peck entregou a estatueta dourada ao filho da actriz Sean Ferrer, ao som da canção “Moon River” do inesquecível  “Boneca de Luxo”.
Pouco mais tarde, o ecrã gigante recuou até 1945 e mostrou um excerto de “National Velvet” , uma cena com duas jovens a caminharem juntas: Angela Lansbury com vinte anos e Elizabeth Taylor com treze. Momentos depois as duas estavam no palco a receber uma das mais sentidas ovações que ouvi na vida. Quando terminaram, saíram caminhando juntas, tal e qual como naquela cena de “National Velvet”.

Uma emocionada Elizabeth Taylor de sorriso tímido com aquele brilho que só as estrelas verdadeiras conseguem ter, voltou a repetir ao nosso lado, na sala de imprensa, o que já tinha dito no palco: “Tal como a minha querida Audrey está agora no céu a tomar conta das suas crianças para sempre, eu aqui ficarei  enquanto puder a lutar ferozmente enquanto tiver forças e durante o tempo que Deus me deixar”.

A última vez que tive notícias de Elizabeth Taylor foi em Novembro de 2010 através de uma amiga comum. Estávamos os dois a almoçar num restaurante em Londres quando ela me contou: “Estive com Dame Elizabeth aqui neste hotel há uns meses. Veio cá discretamente, em segredo, encontrar-se com a Rainha. Achei-a tão frágil, tão debilitada. Acho sinceramente que ela veio despedir-se da sua querida amiga”.


Quando voltei a Lisboa olhei para a belíssima fotografia que ela me tinha autografado há muitos anos e pensei que uma mulher assim pode perder as forças e partir, mas nunca poderá ser esquecida.

Quatro meses depois, Taylor foi para junto  daqueles que mais amou – Burton, Dean, Clift, Hudson, Jackson e os milhares de vítimas da Sida que graças a este anjo de olhos violeta perderam as suas batalhas com menos sofrimento e com muito mais força e dignidade.

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