27 maio 2013

A ver as Estrelas-Fernanda Montenegro by Miguel Monteiro



 Em Março de 2010 aterrei em Roma com um desafio aliciante e imperdível pela frente: contracenar com uma das maiores actrizes do mundo, a única de língua portuguesa nomeada para os Óscares: Fernanda Montenegro.

Durante todo o voo, enquanto relia as cenas dos episódios da novela da Globo, “Passione”, que fui gravar à Toscânia, a imagem de Fernanda Montenegro em “Central do Brasil” não me saiu da cabeça. É uma das mais extraordinárias interpretações da História do Cinema, arrisco-me a dizer, com a confiança de ter do meu lado as opiniões da Academia que a nomeou, dos membros da Associação da Imprensa Estrangeira de Hollywood que a indicaram como nomeada para o Globo de Ouro, do júri do Festival de Berlim que lhe deu o Urso de Ouro de Melhor Actriz ou dos Críticos de Los Angeles que a preferiram também nesse ano de 1998.

Nas duas horas e meia de viagem de carro entre Roma e San Quirico d’Orcia, perto de Siena, deixei as imagens de Dona Fernanda no Cinema de lado e comecei a imaginar que mulher iria encontrar. Tínhamos sido apresentados por Carlos Cruz em 1990, em Lisboa, e desde então só a tinha visto de relance nos estúdios da Globo, uns anos depois.

Agora, como seu colega, num trabalho na principal novela do ano, na mais importante fábrica de ficção televisiva do Mundo, a inquietação esteve sempre presente:  que mulher estaria à minha espera? Uma estrela caprichosa? Uma vedeta? Que mulher seria esta que teve Hollywood a seus pés e que tudo recusou, voltando para a família e para casa no Rio de Janeiro, tendo nestes últimos 14 anos aceite apenas um convite fora do Brasil, para contracenar com Javier Bardem em “Amor Nos Tempos de Cólera”?

Pouco depois estavam desfeitas as dúvidas. Sentados lado a lado no ensaio das nossas cenas, dirigidos pela realizadora Denise Saraceni, trabalhei com uma Actriz de uma generosidade imensa, de uma simplicidade comovente, de um sentido de humor irresistível. Uma mulher que naquela altura tinha 80 anos registados no bilhete de identidade, mas mantinha 30 ou 40 no pensamento, na maneira de ser, na forma extraordinária de encarar o futuro. 

Não foi a “Academy Award Nominee” que encontrei, foi uma Actriz que depois de gravar oito, dez, doze horas por dia, chegava ao hotel e juntava-se aos seus colegas (Tony Ramos, Reynaldo Gianecchini, Aracy Balabanian, Mariana Ximenes…eu)  o tempo que fosse preciso para ensaiar as cenas do dia seguinte. Para que nada falhasse, para que todos estivessem perfeitos. 

Encontrei uma Actriz para quem cada cena parece ser sempre a primeira da sua vida.







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